quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Crônicas de São Paulo


Perceber o cotidiano e fazer dele uma arte é um privilégio. Olhar tanto e, surpreendentemente, ver. Realçar os cantos de uma cidade e registrar em fotografia as mudanças ao longo do tempo, é um bem à memória histórica de uma sociedade e por conseguinte de uma nação. Olhei tanto que vi: Carlos Moreira encontra German Lorca, é mais uma exposição que faz parte do A Gosto da Fotografia, aberta aos baianos no dia 8 de agosto, na Galeria 3 do MAM. A obra é um documento da vida, construído entre os anos de 1950 e 2000, por dois homens portando sensibilidade, sutileza e técnica magnificamente apuradas. Ambos paulistanos, os fotógrafos Carlos Moreira e German Lorca evidenciam nas suas fotografias o dia-a-dia dos seus conterrâneos e as transformações de São Paulo provocadas pelo tempo. Um trabalho que trata a memória de uma cidade de uma forma que foge ao padrão "cartão postal" de imagens engessadas e estereotipadas. Ao contrário, Moreira e Lorca registram São Paulo acompanhando o seu ritmo, transmitindo nas fotografias o movimento de um centro urbano em evolução e captando as pessoas sem artifícios. Nada e nem ninguém estão parados. Todos indo à algum lugar, ao encontro do novo. Ao trazer à Salvador a questão da memória permanente de uma cidade, o curador do festival, Diógenes Moura, quis discutir de que forma a Bahia está sendo lembrada. Para ele, o nosso estado vem tratando sua memória em tom "alegórico, pitoresco e carnavalizado". Olhei tanto que vi, portanto, é um convite ao estímulo para a inovação. Recriar a Bahia vista, durante anos, pelo mundo.

Texto: Flavia Vasconcelos. Fotos: Marcelo Reis.



Exposição: Olhei Tanto que Vi: Carlos Moreira encontra German Lorca.
Artistas: Carlos Moreira e German Lorca.
Visitação: De 9 de agosto a 14 de setembro. Terça a domingo, das 13h às 19h e aos sábados, de 13h às 21h. Entrada gratuita.
Local: Museu de Arte Moderna (MAM). Av. Contorno, s/nº, Solar do Unhão.

De Pierre Verger para os baianos


O extraordinário olhar do fotógrafo francês Pierre Verger (1902-1996) pode ser admirado a partir de hoje (14 de agosto), às 19h, na Galeria Fundação Pierre Verger, na Praça da Sé. Dessa vez, a exposição chama-se Pierre Verger e o mar, cujo trabalho focaliza-se no mar, os seus homens e as suas velas. De acordo com Diógenes Moura, “Verger mostra o mar que ele viu, atravessou e fez surgir com sua devoção uma história de união entre homens e coisas, dor e beleza, tempo e mistério”.
Artista: Pierre Verger
Local: Fundação Pierre Verger Galeria (R. da Misericórdia, nº 9, Lj. 1, Praça da Sé)
Abertura: 14 de agosto, às 19h
Visitação: 15 de agosto a 30 de novembro
Segunda a Sábado – 8h às 20h
Domingos e feriados – 8h às 15h

sábado, 9 de agosto de 2008

Brilho de uma solidão carnavalesca

"Mas é carnaval, não me diga mais quem é você/ Amanhã tudo volta ao normal / Deixa a festa acabar, deixa o barco correr, deixa o dia raiar (...)"
Noite dos Mascarados, 1967, Chico Buarque.



Entre os arcos de pedras do séc. XVII que sustentam a galeria, estão os sorrisos. Sorrisos coloridos, manchados de purpurina, que revelam um desejo latente dentro dos corpos masculinos. Alguns travestis, outros apenas travestidos, mas todos com a mesma intenção: experimentar a feminilidade no alvoroço do carnaval, quando tudo é permitido. Um fetiche que se liberta ao som dos trios elétricos e das multidões, porém capturados em tons de solidão e introspecção, pelos olhos sensíveis de uma mulher, através de lentes fotográficas.


Essa é a exposição Transfigurações, da fotógrafa paulistana Lucia Guanaes, aberta ao público no dia 8 de agosto (sexta-feira), na Galeria Subsolo do Museu de Arte Moderna da Bahia, o MAM. Fazendo parte da programação do A Gosto da Fotografia - IV Festival Nacional, idealizado e organizado pela Casa da Photographia, Transfigurações explora o sentido de identidade, uma das temáticas de discussão do evento.



O trabalho nasceu no carnaval quando, tarde da noite, a fotógrafa observa um folião de peruca colorida e vestes femininas, sentado, solitário, na Praça da Sé [Centro de Salvador] e o fotografa. A cena, segundo a artista, remetia à solidão e profunda introspecção, sentimentos adversos ao clima festivo daquele momento e que muito a atraiu, pois para Guanaes, naquele caso, solidão significava identidade. A partir daí, uma sucessão de imagens foi construída seguindo a mesma abordagem.


Travestis e travestidos, em um mesmo enquadramento, no qual só se vê os rostos, deslocando os personagens do universo do carnaval para um outro mais intimista. O uso do tempo de exposição muito lento também foi uma técnica proposital para sugerir essa transferência de universo. "O movimento na imagem dá uma idéia de saída de um espaço e entrada em outro. E uma foto mais lenta também impede a pose, que era o que eu menos queria no trabalho", explica.

O título da exposição também faz alusão à passagem da bíblia que narra sobre a transfiguração de Jesus no alto de um monte, vista por alguns de seus discípulos. "O seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz" (Mateus, 17, 1-8). É um trabalho repleto de interpretações e carregado de sentimento. As imagens trazem a identidade de cada personagem. Os olhares, as expressões e a maquiagem são marcantes e definem as personalidades. Só não se sabe se é fetiche, brincadeira ou mesmo a revelação da real identidade de cada um.


Exposição: Transfigurações
Artista: Lucia Guanaes
Visitação: 9 de agosto a 14 de setembro. Terça a domingo, das 13h às 19h e aos sábados de 13h às 21h
Local: Galeria Subsolo do MAM. Av. Contorno, Solar do Unhão

Texto: Flavia Vasconcelos. Fotos: Marcelo Reis e Carol Garcia.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Hoje tem mais aberturas no MAM


Museu de Arte Moderna da Bahia - Galeria 3 e Casarão subsolo
- (Av. Contorno, S/N, Solar do Unhão)

Abertura: 8 de agosto, às 19h

Visitação: 9 de agosto a 14 de setembro
Terça a domingo – 13h às 19h Sábado – 13h às 21h



Olhei tanto que vi: Carlos Moreira encontra German Lorca

‘A exposição reúne imagens de dois grandes fotógrafos brasileiros que trabalham com a questão permanente da memória. A fotografia de cada um deles é a reflexão sobre os seus próprios dias; sobre as cidades onde vivem ou passam; sobre as lembranças guardadas como literatura; sobre dois olhares contemplativos diante (nesse caso) da calmaria do tempo’. Por Diógenes Moura
Artista: Carlos Moreira e German Lorca


Transfigurações


As fotos da exposição foram tiradas entre 2000 e 2006, quando Lucia Guanaes fotografou homens que se vestiam de mulher durante o Carnaval. De acordo com as palavras de Diógenes Moura, ‘ao desafiar a lógica e a razão de um corpo e sua alma que não é mais aquele mesmo como foi “batizado”, os travestis que aqui estão são como todos nós; como a mulher que dorme conosco ou aquela outra, que vive dentro de cada indivíduo e que nunca, nunca mesmo, será capaz de abandoná-lo’.
Artista: Lucia Guanaes

Homens ao mar [ou quando a linha do horizonte é a identidade]

Roberto Linsker voltou do mar. Sim, ele é um homem da terra. Mas o que sabem os homens da terra? Da pergunta de Amado [o Jorge], surge uma concreta experiência com o homens ligados ao movimento da maré. A exposição [parte da programação do A Gosto da Fotografia - IV Festival Nacional] Mar de Homens, aberta ontem (07/08), no Conjunto Caixa Cultural, na Av. Carlos Gomes, emociona. Não apenas pelas paisagens de líquido e sal na tela, mas pelas marcas de memória nos detalhes dos moços que vivem da identidade do litoral.


O que costura todas as visões desses homens é essa identidade, segundo Linkser. Mais do que um projeto de vida, Roberto conta ter se entregado ao mar para senti-lo sabendo que de lá teria que trazer uma história, uma imagem. O que ele trouxe foi a sensação de diversidade que documenta o homem vivente ao mar em suas idas, vindas, redes e linhas do horizonte. "O mar pra mim foi um desafio. O importante nesses quase 10 anos de caminho percorrendo o litoral foi sentir as histórias e suas emoções e trazer pra terra esse mar que os homens estão buscando", comenta.


Na ida ao mar, Roberto retratou o mar também em palavras no livro ["Mar de Homens", lançado depois de oito anos dedicados à documentação da costa brasileira, entre 1997 e 2004, percorrendo inúmeras praias e comunidades pesqueiras situadas entre o Oiapoque, na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa, e o Chuí, na fronteira com o Uruguai].


De uma demorada digestão e no balanço da maresia, Linkser pensa nos próximos projetos. Agora, terras latino-americanas. A exposição fica no Conjunto Cultural da Caixa, na Av. Carlos Gomes, até o dia 7 de setembro. O livro Mar de Homens é vendido na Galeria do Olhar que fica na Praça dos Tupynambás, 2, Av. Contorno.

Texto: Niltim Lopes. Fotos: Tito Casal e Roberto de Souza