
Perceber o cotidiano e fazer dele uma arte é um privilégio. Olhar tanto e, surpreendentemente, ver. Realçar os cantos de uma cidade e registrar em fotografia as mudanças ao longo do tempo, é um bem à memória histórica de uma sociedade e por conseguinte de uma nação. Olhei tanto que vi: Carlos Moreira encontra German Lorca, é mais uma exposição que faz parte do A Gosto da Fotografia, aberta aos baianos no dia 8 de agosto, na Galeria 3 do MAM. A obra é um documento da vida, construído entre os anos de 1950 e 2000, por dois homens portando sensibilidade, sutileza e técnica magnificamente apuradas. Ambos paulistanos, os fotógrafos Carlos Moreira e German Lorca evidenciam nas suas fotografias o dia-a-dia dos seus conterrâneos e as transformações de São Paulo provocadas pelo tempo. Um trabalho que trata a memória de uma cidade de uma forma que foge ao padrão "cartão postal" de imagens engessadas e estereotipadas. Ao contrário, Moreira e Lorca registram São Paulo acompanhando o seu ritmo, transmitindo nas fotografias o movimento de um centro urbano em evolução e captando as pessoas sem artifícios. Nada e nem ninguém estão parados. Todos indo à algum lugar, ao encontro do novo. Ao trazer à Salvador a questão da memória permanente de uma cidade, o curador do festival, Diógenes Moura, quis discutir de que forma a Bahia está sendo lembrada. Para ele, o nosso estado vem tratando sua memória em tom "alegórico, pitoresco e carnavalizado". Olhei tanto que vi, portanto, é um convite ao estímulo para a inovação. Recriar a Bahia vista, durante anos, pelo mundo.